quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Crítica: Fragmentado (Split) . 2016


M. Night Shyamalan é odiado por muitos, e eu gosto de dizer que é incompreendido por todos. A verdade é que cada vez que um filme seu estreia nas salas, todos ficam em pulgas para o ver. Muitos dizem que atingiu o seu apogeu logo no seu terceiro trabalho, O Sexto Sentido em 1999, mas eu diria que apesar de uns deslizes gravíssimos na carreira - e mais vale esquecer O Último Airbender (2010) e Depois da Terra (2013) - Shyamalan continua a ser fiel a si próprio, e coloca Fragmentado no top 5 dos seus melhores filmes.

Três jovens adolescentes, Claire (Haley Lu Richardson), Marcia (Jessica Sula) e a reservada Casey (Anya Taylor-Joy), são raptadas num parque de estacionamento de um restaurante quando o pai de uma delas se prepara para as deixar em casa. Sob a personalidade de Dennis, Kevin Crumb (James McAvoy), um homem que sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade cujos diferentes comportamentos estão associados às vinte e três personalidades contidas na sua identidade, é o responsável pelo rapto e leva-as para uma divisão da sua casa onde as mantém em cativeiro. Sem sabermos ao certo porquê, Casey é a única que estranhamente consegue lidar com o comportamento inconstante das personalidades de Kevin, que enquanto as mantém escondidas em segredo, vai visitando regularmente a psiquiatra Dra. Karen Fletcher (Betty Buckley) que conheça a suspeitar da frequência dessas visitas.

Shyamalan gosta de explorar outros conteúdos dentro do género do terror e do suspense, buscando sempre ligações mais profundas ou até questões morais, fazendo conexões interessantes, com o paranormal e o psicológico. O feeling claustrofóbico é constante, uma mais valia para o aumento da tensão e intriga na história, assim como os movimentos de camera e a cinematografia fruto do trabalho de Mike Gioulakis, o responsável pela também fantástica cinematografia de It Follows (2014). Ao longo de mais de duas horas - a meu ver, duração excessiva para o que se pretende transmitir - Shyamalan continua a ambicionar sempre mais que aquilo que consegue alcançar e existem sempre ideias que ficam perdidas pelo caminho e das vinte e três personalidades contidas no personagem principal acabamos só por ver apenas três delas a ser mais exploradas. Apesar de se debater com algumas dificuldades de equilíbrio entre as cenas passadas na cave de Kevin e da sua relação com a psiquiatra, Fragmentado vai suscitando sempre o interesse, ou não fosse a interpretação de James McAvoy algo fantástico, acabando por criar uma estranha empatia em torno da sua personagem. A jovem Anya Taylor-Joy parece ter nascido para o género do terror e certamente terá um futuro promissor ou não fosse também ela, um dos pontos fortes deste filme. 

É curioso como podemos encontrar um pouquinho de cada um dos filmes anteriores de Shyamalan aqui contidos, quer através de significados como através de meras cores ou pequeninos detalhes. Chegamos ao fim, com a consciência de que muita coisa podia ter sido melhorada, mas que os pontos fortes se notam mais que os fracos. M. Night Shyamalan voltou a satisfazer e a pequena surpresa com que nos deixa no final é muito cool.

Classificação final: 4 estrelas em 5.
Data de Estreia: 02.02.2017

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