domingo, 29 de janeiro de 2017

Crítica: Manchester By the Sea . 2016



Há filmes, que são muito mais que filmes, são experiências emocionais que nos colocam em posições e situações nas quais nos envolvemos e ficamos vulneráveis. Manchester By the Sea, é brilhantemente realizado por Kenneth Logernan que aqui consegue concretizar uma obra que transparece desde o inicio um sentido de realidade imenso através da dureza das palavras e da simplicidade e realismo com que tudo o que aqui é apresentado.


Lee Chandler (Casey Affleck) é um homem reservado, bastante introvertido que passa os seus dias de mau humor, cansado do trabalho de "faz-tudo" que executa numa urbanização dos arredores de Boston. Lee vê-se obrigado a regressar à sua cidade natal, Manchester by the Sea em Massachusetts, quando recebe a noticia de que o seu irmão mais velho Joe (Kyle Chandler) acaba de falecer com uma doença cardiaca. Emocionalmente desgastado com o regresso, Lee vai recordando, alguns dos momentos que passou junto da família durante os tempos em que lá viveu e à medida que volta a cruzar-se por caminhos e com pessoas com quem partilhou momentos da sua vida, e com a ajuda de flashback's vamos percebendo melhor o porquê da razão deste carácter especial que se foi moldando com o passar dos anos. Ao mesmo tempo, terá de aprender a realicionar-se com Patrick (Lucas Hedges), o seu sobrinho adolescente, de quem agora é tutor legal até este completar vinte e um anos.


Uma história sobre pessoas reais e situações reais, que retrata de forma honesta, por vezes brutal e cruel, o que é a vida e quanto o sofrimento e a dor de uma perda podem influênciar comportamentos assim como fortalecer e amadurecer personalidades através de experiencias. A abordagem é sempre a mais natural possivel em todos os aspectos, assim como os momentos cómicos constantes, momentos esses que são contra-balançados com o peso enorme do lado dramático da história, momentos também eles perfeitamente legitimos e inteligentemente inseridos na história. Casey Affleck nunca esteve tão bem, neste que poderá tornar-se no papel da sua vida. A sua performance é absolutamente perfeita, talvez a melhor que podemos ter visto em 2016, interpretando de forma impecável um homem aparentemente superficial, de dificil leitura, que aos poucos se vai revelando e mostrando uma vulnerabilidade tremenda que transparece para o lado de lá da tela e é capaz de emocionar qualquer um. Michelle Williams continua a ser super competente da entrega que dá aos seus papeis e aqui uma vez mais, dá tudo de si, num papel pequeno, mas muito bem construido e fulcral para o desenvolvimento do papel de Affleck. O novato Lucas Hedges também não deixa de surpreender, proporcionando momentos dificieis, hilariantes e até ternurentos entre sobrinho e tio. Não poderia deixar de mencionar o papel importantissimo da banda sonora que também ela causa grande impacto.

Um dos aspectos que torna este filme tão especial é o facto de fugir à formula do género em que se insere. Kenneth Logernan recusou-se a seguir um caminho de clichés, num mundo onde os contos de fadas não existem e a vida é simplesmente aquilo que tem de ser. Manchester By the Sea é um dos melhores filmes extraídos de 2016, daqueles que nos dão um murro no estomago tão grande que ficamos a pensar nele dias a fio. Afinal, são estes, os bons filmes, capazes de provocar esse efeito.


Classificação final: 5 estrelas em 5.
Data de Estreia: 05.01.2016

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