domingo, 6 de novembro de 2016

Crítica: American Honey . 2016


American Honey provocou burburinho este ano em Cannes. Escrito e realizado pela britânica Andrea Arnold (Fish Tank, 2009) acabou por levar para casa o Prix du Jury. Ora alegre, dinâmico, ora triste e silencioso, alcança na perfeição o seu objectivo, levando-nos numa jornada emocional por caminhos onde se "encontra amor em sítios sem esperança".

Começamos por conhecer Star (Sasha Lane), uma rapariga de dezoito anos, à procura de comida no lixo, com duas crianças mais novas, das quais é obrigada a tomar conta. Cansada das responsabilidades de adulto, e de não poder viver a liberdade do que é ser adolescente, Star parte para a aventura, juntando-se a um grupo de jovens que vendem revistas porta a porta, percorrendo os Estados Unidos, sem nada a perder, prometendo aos outros e a si mesma que irá trabalhar muito e que ninguém dará pela sua falta. Rapidamente Star, fica encantada com a sedução de Jake (Shia LaBeouf), o melhor vendedor do grupo e também agente, sendo ele o responsável pelo recrutamento, às ordens da manager do gang Krystal (Riley Keough). Aqui Star encontra uma realidade diferente, sem responsabilidades onde todos vivem o dia-a-dia sem rumo, dormindo em motéis, com sexo, drogas e álcool lado a lado. A estes jovens vendedores tudo é permitido, com uma condição, trazer o máximo de dinheiro ao fim do dia, de preferência enganando os clientes da melhor maneira possível.

De narrativa simples e muito pessoal, tudo aqui é cru e parece verdadeiramente natural, recheado de crítica social, abordando muitos dos problemas da sociedade, principalmente americana. Com uma belíssima cinematografia, que não só ajuda a dar vida ao filme, mas transforma-o numa jornada vibrante, dando importância ao mais ínfimo detalhe, American Honey prima pelas excelentes interpretações por parte de um elenco na sua maioria desconhecido, onde o maior destaque é dado ao talentoso Shia LaBeouf e à novata Sasha Lane, que vive o papel de forma intensa e cem por cento convincente. Apesar de conseguirmos prever o desfecho, que na realidade é aberto, dando a oportunidade de imaginarmos múltiplas opções para o futuro das personagens, o ambiente misterioso está presente durante quase três horas de filme. Poderia dizer que seria escusado ser tão longo, mas o que aqui conta é sem dúvida o seu propósito muito vincado na cultura americana, no que é ser jovem, no que é ter sonhos, e na força que se tem para os poder concretizar, mesmo que para isso o caminho seja bem mais complicado do que aparentava ser, quando a idade adulta está à porta e os sonhos de criança parecem aos poucos deixar de fazer sentido. O poder das paisagens é imenso, assim como os sonhos destes adolescentes, com fortes referencias da cultura pop americana presentes, desde o hip-hop até Star Wars, pois segundo Star, todos os seres nascem estrelas mortas, ou não fossem os objectivos destas jovens almas desafortunadas difíceis de alcançar, quando se nasce sem brilho, mas se tem o desejo e a doçura de vencer na vida.

American Honey é acima de tudo um filme que vive muito daquilo que transmite apenas com imagens, não precisando muitas vezes de recorrer aos diálogos para passar mensagens. Um dos mais belos filmes que este ano terá para nos oferecer.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.
Data de Estreia: 17.11.2016
Exibido no Lisbon & Estoril Film Festival '16

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