terça-feira, 10 de novembro de 2015

Crítica: 45 Years . 2015


« Exibido no LEFFEST '15 »

45 Years é um drama realizado por Andrew Haigh, também co-escrito por ele, baseado no conto "In Another Country" de David Constantine. Sublimemente interpretado por Charlotte Rampling e Tom Courtenay, o filme dá-nos um olhar simples, honesto, absolutamente devastador, de um casal prestes a comemorar o seu 45º aniversário de casamento.

Quando Geoff (Tom Courtenay) recebe uma carta dizendo que o corpo da sua namorada de há 50 anos foi encontrado nos Alpes, a notícia abala de forma inesperada a sua esposa Kate (Charlotte Rampling), que se sente inquieta com o "reaparecimento" deste antigo amor. É partir daí, e durante a semana de preparação para a festa de aniversário de casamento, que os fantasmas do passado começam a interferir na vida do casal e atitudes de cada um, e um casamento de uma vida, começa a ser posto em causa por Kate. Será que ao fim de 45 anos, valeu a pena? Um conto que demonstra muito do quanto o ser humano gosta de guardar segredos que não compartilha com mais ninguém, que não consigo mesmo. A bela demonstração de que como uma revelação, pode mexer com a cabeça e sentimentos de qualquer um, trazendo desconfiança e dúvidas quando se pensava ter todas as certezas.

O dialogo natural, por vezes brincalhão, por vezes bastante melancólico, reflecte sempre da melhor maneira o estado de espírito dos personagens nas determinadas circunstancias. Vamos avançando na história de forma lenta, mas efectiva, quase como se por vezes nos esquecêssemos que estamos a assistir a um filme, e observássemos uma história sobre pessoas reais. Os dois veteranos actores dão performances brilhantes, mas é Rampling que torna este filme, muito mais especial do que é. A sua performance devastadora, é muitas vezes feita apenas de olhares e expressões que dizem imenso do seu estado emocional. A química entre os dois actores também é notória sendo capazes de nos proporcionar momentos absolutamente deliciosos. A banda sonora merece o seu destaque, principalmente pela interessante escolha de playlist para a celebração, que pode dizer mais do que inicialmente podemos pensar.

Uma belíssima e honesta obra cinematográfica, com um dos melhores, mais profundos e mais avassaladores finais que vimos este ano. Sem clichés nem deslumbramentos, um filme real, sobre pessoas reais, sentimentos reais.

Classificação final: 5 estrelas em 5.

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2 comentários:

  1. Podes explicar o final ou dar a tua opinião sobre o mesmo? Não percebi se era suposto ser ambíguo ou não

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    1. Para já começo por dizer que adorei o final. Sem entrar em grandes pormenores (para aqueles que ainda não o viram) na minha opinião acho que de ambíguo não tem nada. É bastante objectivo até. Vemos ali uma mulher que sempre acreditou que era feliz, até se confrontar com algo inesperado que a faz repensar no relacionamento de 45 anos. Depois de uma vida inteira ao lado de quem sempre amou, acaba por se sujeitar a continuar viver agora (mesmo em sofrimento) num mundo de sentimentos que nem sequer sabe se é construído por verdades ou não.

      É um filme bastante belo e doloroso, e este final faz todo o sentido, assim como a escolha (letra) da música da dança final na festa dos 45 anos de casamento (The Platters - Smoke Gets In Your Eyes).

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